ESTRESSE, DEPRESSÃO…
Como pensar positivamente quando nada vai bem?

Rutura amorosa, despedimento, acidente, doença… Preocupações num mundo ansiogénico, com pandemias, alterações climáticas e conflitos mundiais…. Será que o destino está contra nós? Escapar à solidão e ao isolamento continua a ser a solução principal para recuperar o pé na vida. Aqui estão conselhos e dicas para criar novos hábitos de bem-estar.

Quando um ou mais elementos-chave da nossa vida (dinheiro, saúde, amor, trabalho…) se racham ou desmoronam, tudo parece sombrio, sem saída, desesperante. Ficamos zangados, generalizamos, “Está tudo perdido!” e lamentamos a nossa infelicidade. “Estarei eu amaldiçoado?” Claro que não, não há fatalidade na infelicidade, apenas períodos mais difíceis de atravessar do que outros. E, perante a acumulação de adversidades, pequenas ou grandes, o sofrimento instala-se, ao ponto de captar toda a nossa atenção como um íman emocional. E se a ação imediata é impossível, o nosso software de stress e preocupação acelera, a nossa atenção encolhe, criando um isolamento mortal que amplifica os problemas. No entanto, todos podem sair do buraco, garantem os psicólogos, mesmo que os reveses cheguem em série. Desde que se siga um verdadeiro “caminho” e se dê tempo ao tempo para construir a felicidade.

  1. Aceitar sem resignar-se

Sim, as desgraças são bem reais, não se deve inventar histórias. Estás mergulhado numa situação desagradável. Não se trata de resignar-se a ela. Diz para ti mesmo “É assim que é”, um pré-requisito indispensável para a ação. Aceita também o facto de que nada dura. Os budistas chamam a isso “impermanência”. Tudo acaba por passar, desilusão, ferida, amargura, raiva… Não se trata de reprimir as emoções fortes que surgem, acolhe-as.

  1. Escrever e evacuar os pensamentos e ideias negativas

Posso sugerir-te um ritual libertador, escrevendo num papel a descrição dos acontecimentos, o que te magoou, a dimensão da tua dor e o que perdeste após uma ruptura, por exemplo. A ideia é depois queimar este papel ou confiá-lo à natureza, atirando-o a um rio, ou esquecendo-o debaixo de um monte de pedras. Chamo a isso “limpeza das feridas”, não deve ser ignorado.

  1. Conceder “pausas de prazer”

Durante esta fase de aceitação dolorosa, é necessário parar. Concentrar-se nas pequenas coisas do dia-a-dia evita a prostração. Também é importante conceder-se pausas de prazer no meio da tristeza, ouvir uma música, saborear uma guloseima… O mundo nunca nos desilude, não se importa com os nossos estados de espírito, tem sempre algo para nos oferecer.

  1. Apoiar-se em rotinas reconfortantes

Todos temos uma rotina fixa que regula as nossas vidas (acordar, compras, preparação das refeições…), as técnicas anti-stress em casa (jardinagem, meditação, leitura), os compromissos de bem-estar (ginástica, saídas semanais). Os rituais confortam, são automatismos suaves que nos ligam à vida e trazem bom humor e conforto. Então, identifica os teus e saboreia-os com plena consciência.

  1. Ligar-se aos outros

Trata-se de partilhar a dor com íntimos ou com relações benevolentes, antes de se abrir a novos rostos, sobre os quais não sabemos o que conhecem do sofrimento. É melhor abrir-se primeiro àqueles que sofrem ou que sofreram provações semelhantes. Este primeiro passo quebrará a solidão e o sentimento de incompreensão. Percebemos então que confiar as nossas tristezas àqueles que as podem entender nos dá a sensação de pertencer a uma comunidade humana. As perceções negativas diminuem. Sentimo-nos vivos.

  1. Enganar o cérebro para ver o positivo em vez do negativo

Os teus neurónios estão presos no negativo? É humano. Reorienta esta mecânica projetando-a num futuro cheio de sucessos através da visualização. Este exercício requer que te sentes confortavelmente numa cadeira. De olhos fechados, relaxado, imagina o filme da tua nova vida que vai suplantar aquela que te (fez) tanto mal, por exemplo, um trabalho gratificante e sem stress, relações pacíficas em família, amigos fiáveis, um parceiro atencioso… Repete o exercício várias vezes, para ancorar estas coisas positivas na tua mente. A repetição dá ao cérebro a ilusão de que estas ideias são verdadeiras, e ele começa a ver tudo cor-de-rosa.

  1. Criar uma caixa da felicidade para momentos difíceis

Arranja um frasco de madeira ou uma caixa de vidro, insere lá várias ideias e/ou memórias felizes escritas num pequeno pedaço de papel. E no dia em que te sentires mal, tira um ao acaso. Lerás então o que já te fez sentir bem: “Fiz um amigo no coro”, “Consegui finalmente fazer a tarte tatin”… Esta dica simples traz bem-estar.

  1. Cuidar de uma planta para desestressar

“Num dia de depressão total, uma amiga comprou um bonsai. Ela não sabia nada sobre isso. Então, com a ajuda de um pequeno livro específico, aprendeu a cuidar dele de acordo com as estações, a regá-lo, a fazer podas, a transplantá-lo. Ela confessou-me que este micro-arbusto representava o seu novo eu”. Fazer germinar um abacate, plantar um morangueiro, uma flor e cuidar dela é o mesmo que cuidar de si. “Dia após dia, vemo-los crescer, florescer, a nossa imagem, nós que estamos em plena renovação”. Funciona!

  1. Redescobrir a capacidade de maravilhamento para ser positivo

Chamo a isso “herança da desolação”. A adversidade recalibra o nosso olhar sobre o quotidiano, pequenas coisas que olhamos com um olhar grato, positivo, apreciativo. Por exemplo, no contexto da crise energética, ter acesso a água, eletricidade, transportes, ajuda a reduzir a angústia. Redescobrir o que há de bom na minha vida, valorizar tudo o que até agora considerava natural, numa postura de “habituação hedónica”, recria o positivo. O objetivo é redescobrir a capacidade de maravilhar-se, como uma criança: “Que bom, posso tomar um duche quente!”. Foca-te em tudo o que está bem. Apenas uma parte da tua vida manterá cicatrizes.

“O nosso cérebro está programado para o negativo”

Por que é que o cérebro tem sempre tendência a ser negativo? 

Porque o cérebro evolutivo do ser humano está projetado para detetar obstáculos e perigos num universo hostil. Quando surge uma ameaça ou um evento doloroso, ele extrapola o pior. Esta reação instintiva permanece ancorada nos nossos neurónios, manifestando-se num viés cognitivo (atalho de pensamento do cérebro) bem identificado: o “viés da negatividade”.

Em que medida este “viés” nos impede de nos tornarmos positivos? 

O mecanismo do viés da negatividade leva-nos, sem que nos apercebamos, a reter mais facilmente e por mais tempo as más notícias do que as boas, bem como as experiências e emoções negativas do que as positivas, mais as contrariedades do que as satisfações. Além disso, leva-nos a dar mais crédito às críticas do que aos elogios. A isto, por vezes, junta-se uma “intolerância à frustração”, que nos leva a ver tudo de forma negativa: nada corre como queremos, e o cérebro fica preso nesta constatação amarga. É necessário fazer um esforço para ver além desta negatividade.