AUTOFOBIA 
Como deixar de ter medo da solidão?

A autofobia, ou o medo da solidão, é muitas vezes descrita como o novo mal do século. Como se manifesta esta fobia social? Como superá-la e fazer da solidão uma aliada? Vamos aos detalhes.

Estar sozinho é, por vezes, necessário no dia a dia, para dormir em paz, ler um bom livro, refletir sobre a nossa vida, etc. Mas, se a solidão pode ser calmante e enriquecedora, para algumas pessoas, é intolerável e gera uma sensação de medo irracional, que afeta fortemente o seu quotidiano. Este comportamento patológico tem um nome, autofobia. Quais podem ser as suas consequências físicas e psíquicas? Como tratá-la?

Definição: o que é a autofobia? 

Etimologicamente, autofobia designa o “medo de si próprio”. Nada a ver, portanto, com o medo de conduzir um automóvel. Na prática, não se teme a própria presença, mas sim a ausência dos outros. A solidão é percebida como uma punição, e a companhia, tranquilizadora, torna-se uma necessidade: as pessoas ditas “autofóbicas” estão dispostas a tudo para não ficarem sozinhas, mesmo que isso signifique tolerar comportamentos violentos e/ou tóxicos. Segundo elas, é melhor estar mal acompanhado do que sozinho.

Fobia de estar sozinho: como se manifesta esta angústia da solidão? 

Por uma razão que escapa ao seu controlo, as pessoas que sofrem de medo da solidão sentem-se incompletas, ou até em perigo, quando estão sozinhas, mesmo em ambientes seguros. Sentem uma sensação de mal-estar, marcada por stress e ansiedade. A sua mente convence-as de que um perigo iminente está sempre presente e pode cair sobre elas quando estiverem sozinhas. Temem, então, não receber ajuda em caso de acidente, de delírio ou de pensamentos suicidas. A simples ideia de ficarem sozinhas em algum momento paralisa-as, e fazem tudo o que podem para estarem rodeadas de gente, a qualquer custo.

Vários sintomas físicos podem manifestar-se quando estão sozinhas, ou quando antecipam o facto de estarem sozinhas:

  • palpitações cardíacas,
  • náuseas e tonturas,
  • dificuldades respiratórias,
  • suores frios,
  • dores no peito ou uma sensação de aperto,
  • crises de pânico,
  • sintomas depressivos (problemas de sono, grande fadiga, apatia, pensamentos suicidas, etc.),
  • entre outros.

Como reconhecer uma pessoa autofóbica? 

No dia a dia, as pessoas com fobia da solidão fazem questão de estar sempre bem acompanhadas. Organizam os seus horários de forma minuciosa e preenchem-nos com várias atividades que nem sempre são do seu agrado, apenas para evitar o isolamento. Todos estes parâmetros levam-nas, muitas vezes, a ter uma atitude tensa e pouco natural com os outros.

Se prestarmos atenção, percebemos muitas vezes que as suas histórias têm incoerências. Porquê? Essas pessoas tendem a construir um “falso eu”, ou seja, a embelezar a realidade para parecerem mais atraentes e ganharem a simpatia dos outros. O seu principal objetivo, não nos esqueçamos, é fazer de tudo para não ficarem sozinhas, mesmo que isso signifique “mentir” para se conformarem às expectativas dos outros. O autofóbico pode também recorrer à chantagem emocional ou até tornar-se um perigo para si próprio.

Causas: porque é que se tem medo de estar sozinho? 

A autofobia afeta tanto homens como mulheres. Na origem, muitas vezes, está uma ferida de abandono ocorrida na infância, como ter sido esquecido numa creche ou num lugar público, o sentimento de não ter sido ouvido ou suficientemente apoiado pelos pais, etc. Ao crescer, estas crianças sentiram que não eram suficientemente apreciadas, valorizadas ou dignas de estima. Falta-lhes autoconfiança, e o facto de estarem sozinhas é, portanto, fonte de angústia e sofrimento. Embora este sentimento sempre tenha existido, hoje em dia é exacerbado pelo uso das novas tecnologias e pela ascensão das redes sociais, em que a corrida aos “likes” ainda é muito associada ao sucesso pessoal. Outros fatores psicológicos ou psiquiátricos também podem desempenhar um papel, como os distúrbios de ansiedade ou de personalidade.

Tratamento: como vencer a autofobia? 

O medo exacerbado da solidão pode prejudicar tanto as pessoas afetadas como as que as rodeiam. Felizmente, nunca é irreversível. Várias soluções permitem aprender a conhecer-se melhor para restaurar a autoestima e afirmar-se mais.

Aceitar as próprias falhas, o apoio dos que nos rodeiam e algumas mudanças no estilo de vida são geralmente eficazes.

A atividade física e as práticas de bem-estar, como a meditação, a sofrologia ou o ioga, são aliadas preciosas.

No entanto, a ajuda de um profissional (psicólogo, coach, etc.) pode ser valiosa.