A RAIVA
O que é a raiva e como a gerir?
Pecado mortal ou emoção construtiva? A raiva é uma emoção natural que deve ser gerida. Muitas vezes percebida de forma negativa, ela pode, no entanto, servir como motor de ação. Aprenda a levá-la em conta, a redirecioná-la sem a reprimir, e a transformá-la numa força motivadora e positiva.
A felicidade nem sempre é benéfica, e a raiva nem sempre é má ou destrutiva. Não teria sido preservada ao longo da evolução da nossa espécie se não fosse interessante para nós. Mesmo as emoções classificadas como “negativas” podem ser úteis, desde que saibamos como as gerir. De facto, esta emoção continua a ser a mais difícil de controlar.
Quais são as causas da raiva?
A raiva é uma emoção natural que permite libertar uma energia defensiva. Faz parte das emoções básicas, como o medo, a tristeza ou a alegria. Para o bebé que não está satisfeito por ser colocado de volta no berço quando quer ficar nos braços, para a criança de três anos que recusa as frustrações… a raiva é uma reação normal. E legítima, pois é o único modo de comunicação de que a criança pequena dispõe.
Este impulso é canalizado com a ajuda dos pais, que ensinam a criança a verbalizar os seus recusos e depois a justificá-los. Quando o processo se completa normalmente, o indivíduo mantém uma capacidade razoável de revolta e indignação. Ele consegue enfrentar as contrariedades e os conflitos inerentes à própria vida, mas aprendeu a não funcionar com base na agressividade, seja ela verbal ou física.
Por outro lado, a raiva sem controle é um perigo para os outros, mas também para si próprio.
Porque estou sempre zangado?
Sentir raiva de vez em quando é perfeitamente normal. Mas se se sente permanentemente zangado, se a sua irritação é praticamente constante, isso pode ser sinal de um mal-estar que não se reconhece ou que não se quer reconhecer. Como tem de se expressar em algum momento, isso manifesta-se através de uma emoção forte e intensa.
Pode ser também que esteja a esconder outras emoções: a tristeza, por exemplo, ou o medo, mas também sentimentos como a frustração (não conseguir comprar aquele par de ténis da moda é um pouco frustrante, não?) o ódio e até o amor. É também uma forma de se proteger, como se, para lutar contra a tristeza, por exemplo, fosse necessário sentir-se vivo.
Quais são os riscos de uma raiva mal gerida ou excessiva?
O indivíduo que vive em excesso de raiva ou que só encontra a raiva para reagir a eventos que lhe desagradam faz sofrer quem o rodeia. E ele próprio sofre com o medo que provoca nos outros.
Aqueles que convivem com o colérico vivem, de facto, num estado de medo constante, devido à imprevisibilidade da raiva patológica, que é sempre repentina e desproporcionada. A relação do colérico com os outros é distorcida. Ele corre o risco de se isolar na solidão. E a raiva acaba por se autoalimentar num ambiente de rancor.
Por fim, a raiva é fisicamente perigosa. Desemboca em fúria e depois em violência. Coloca-se em perigo a si próprio (comportamentos de risco, como ao volante, por exemplo). E coloca os outros em perigo: a tentação de agredir nunca está longe para quem não sabe expressar-se de outra forma que não a raiva. A raiva está no cerne da violência conjugal e familiar.
Como gerir e libertar a raiva interior?
Talvez possamos tentar, numa primeira fase, canalizar, domesticar a raiva. Não é uma emoção negativa e pode – felizmente – transformar-se em algo positivo! Por exemplo, podemos exteriorizá-la praticando desporto: boxe, desportos de combate, mas também ténis, dança ou até golfe… Tudo é permitido, desde que ajude a libertar um pouco dessa energia.
Para os indivíduos coléricos, bem como para os que se reprimem permanentemente, as terapias psicocorporais que visam o domínio da mente através do controlo do corpo trazem alívio relativamente rápido e podem ajudar na gestão da raiva. Também não é inútil, quando a raiva tem raízes profundas, procurar as suas origens na infância ou em certos traumas antigos. Uma terapia analítica pode ser interessante.
As pessoas cuja relação com os outros passa sistematicamente pela violência têm muita dificuldade em sair desse ciclo sem ajuda. Mas a consciência deste padrão já é um passo importante e encorajador.
Como se acalmar quando se está irritado?
Teve um grande acesso de raiva? Aqui estão algumas dicas para acalmar-se.
- Isolar-se;
- Apertar uma almofada, uma bola anti-stress, um peluche…;
- Respirar lenta e profundamente durante alguns minutos para se acalmar e desacelerar o ritmo cardíaco;
- Ouvir música suave e relaxante;
- Acariciar um animal de estimação;
- Telefonar a uma pessoa reconfortante e amada ou simplesmente pensar no seu rosto;
- Mexer-se: caminhar, correr, saltar, fazer flexões…;
- Verbalizar a sua raiva, tentando não magoar ninguém.
4 conselhos para gerir e libertar a raiva interior no trabalho
Para manter um bom ambiente no trabalho, é essencial controlar os nervos em qualquer circunstância e adotar, sempre que possível, uma atitude zen.
A comunicação, a consideração e, acima de tudo, o respeito são essenciais na vida em sociedade e no ambiente de trabalho. Quando um desses elementos falta, facilmente surgem crises de raiva entre colegas. No entanto, se quisermos manter uma atmosfera agradável, é preciso aprender a canalizar essas crises e evitar dizer coisas que possamos vir a arrepender-nos mais tarde.
Conselho n.º 1: manter distância
Para evitar a escalada de violência verbal, saia da sala. Independentemente da situação, quer esteja numa reunião ou num almoço, é preferível sair por alguns minutos, mesmo que pareça estranho, do que perder completamente o controle dos nervos.
Conselho n.º 2: isolar-se para se acalmar
Depois de se isolar, ligue a um amigo e desabafe, ou conte lentamente até recuperar um ritmo respiratório normal. A pressão diminui à medida que o tempo passa. Depois, pode voltar à situação. Talvez esta não tenha mudado, mas será capaz de controlar as suas emoções muito melhor do que se tivesse ficado no mesmo lugar.
Conselho n.º 3: compreender e antecipar
Para evitar voltar a estar numa situação semelhante, tire alguns minutos para refletir sobre o que o deixa fora de si. O seu trabalho não é valorizado como deveria? Está sobrecarregado e não consegue terminar os seus dossiês a tempo? Tem conflitos com alguns colegas? As restrições de horário estão a causar-lhe demasiado stress? Identificar o problema específico pode ajudá-lo a antecipar a raiva e, eventualmente, a encontrar uma solução.
Conselho n.º 4: pensar de forma positiva
Em vez de pensar no que poderia ter feito de forma diferente ou no que o seu colega deveria ter feito, reformule o seu pensamento. Lembre-se dos aspetos positivos do seu trabalho: o contacto humano, o salário, o objetivo final da missão, a ajuda que presta aos outros. As coisas nem sempre acontecem como queremos, mas, ao concentrarmo-nos no lado positivo, conseguimos enfrentá-las.
Uma raiva reprimida também não é saudável
Pelo contrário, a raiva constantemente reprimida não é um ideal a perseguir. Ao não admitir a raiva nos seus filhos, alguns pais – muitas vezes porque estão eles próprios desligados da sua raiva – colocam um bloqueio muito pesado sobre a capacidade da criança de expressar as suas emoções.
A raiva reprimida torna-se sufocante, tóxica: impede as capacidades de expressão. Retira ao indivíduo a capacidade de se defender, de defender o seu território. Pode levar a comportamentos ansiosos, à desvalorização por sentimento de impotência e à autodestruição (vícios, compulsões alimentares). Finalmente, uma raiva reprimida ameaça sempre explodir de forma desproporcionada e perigosa.
A raiva, uma emoção que tem benefícios
Ficar zangado pode fazer-nos sentir mal, reagir sem pensar, esquecer os riscos e adotar comportamentos autodestrutivos. É por isso que a raiva é muitas vezes mal vista e escondida por quem a sente. Mas, como todas as emoções, a raiva tem os seus propósitos, que podem ser utilizados de forma construtiva.
Ela motiva-nos
Talvez já tenha ouvido a expressão “transformar a raiva em energia positiva”. Isso não significa que devemos reprimir a emoção, mas sim usá-la como força motivadora. A raiva pode impulsionar-nos a alcançar os nossos objetivos e ajudar-nos a enfrentar os problemas e obstáculos. Também fornece a força necessária para nos defendermos.
Ela ajuda o nosso relacionamento
A raiva indica a presença de um problema que devemos enfrentar. O seu desencadeador mais comum é a frustração. É uma reação natural quando nos sentimos prejudicados por outra pessoa, e é a nossa forma de comunicar essa sensação de injustiça. Num relacionamento, há sempre momentos em que o nosso parceiro nos irrita. Esconder esse sentimento impede que ele perceba que o seu comportamento nos incomoda. Expressar essa raiva, quando não serve apenas para descarregar, pode ajudar a encontrar uma solução e fortalecer a relação.
Ela reduz a violência
Muitas vezes, aqueles que agem sob o efeito da raiva arrependem-se do que disseram ou fizeram. Embora essa emoção anteceda frequentemente a violência física, também pode ser uma forma de a reduzir. Quando o ambiente à nossa volta percebe este sinal social tão forte e age para acalmar a situação, o conflito pode ser resolvido. A raiva não é fácil de redirecionar, mas propor uma pausa à pessoa zangada é uma forma eficaz de aliviar a pressão. Se estiver zangado, ou se alguém se zangar consigo, não ignore essa raiva.
Faça uma caminhada de alguns minutos, identifique e analise o problema, e pense numa solução que possa apresentar de forma calma.