A GENTILEZA
Por que ser gentil ajuda a manter-se saudável
Ser gentil, mostrar generosidade, compaixão, não é sinal de falta de carácter. Muito pelo contrário! Tirar tempo para ouvir o outro, para ajudar sem se esquecer de si mesmo é a marca dos verdadeiros gentis. Uma generosidade desinteressada e revigorante. Que, além disso, pode ser aprendida aos poucos.
Muitas vezes mal compreendida por ser sinónimo de ingenuidade, tolice, fraqueza ou mesmo estupidez, a gentileza é uma qualidade rara que está a recuperar gradualmente o seu valor. Nos dias de hoje, o poder dos gentis é cada vez mais reconhecido. O que é ser uma pessoa gentil? Quais são os benefícios da gentileza para a saúde física e mental?
O que é a gentileza?
Esta capacidade de estar disponível para o outro faz bem ao corpo e à mente, sobretudo porque o ser humano é biologicamente predisposto à bondade.
A gentileza tem três facetas. O olhar benevolente sobre os outros, o desejo de os compreender – a empatia – e os atos altruístas e generosos no dia a dia. Longe de ser visto como um “banana”, o gentil é um benevolente, facilitador de relações humanas.
A gentileza é uma força que desarma.
O que é uma pessoa “gentil”?
A gentileza é uma força, e não uma fraqueza. É uma escolha, um compromisso: é a decisão da pessoa de fazer o bem acontecer, de se sentir responsável por isso. Não tem nada a ver com a passividade que lhe é atribuída. Além disso, tem o poder de mudar as coisas. Entre ignorar uma injustiça e dar o troco, há um terceiro caminho: recusar o conveniente “é assim, não podemos mudar nada”, e afastar o mal ao seu nível com um sorriso. O gentil surpreende e desarma, e também deixa entrever que poderia ser mau.
É uma qualidade ser gentil? Quais são os benefícios?
Estudos têm mostrado que a gentileza, desde que seja espontânea e desinteressada, ajuda a preservar a saúde.
- A gentileza diminui o stress: porque ser amável e generoso traz um certo prazer, as pessoas naturalmente altruístas e simpáticas têm um nível de cortisol – a hormona do stress – cerca de 20% inferior ao resto da população. Um efeito favorável também para o bom funcionamento do nosso sistema imunitário, sensível ao stress;
- A gentileza reduz o risco de depressão: agir gentilmente estimula a produção de serotonina, um neurotransmissor antidepressivo;
- A gentileza reduz a dor: a gentileza repetida estimula a produção de endorfinas, analgésicos naturais, o que se traduz concretamente em menos dores crónicas no dia a dia;
- A gentileza diminui a tensão arterial: ter um comportamento centrado na gentileza, ou mesmo refletir sobre como podemos ser mais gentis, liberta oxitocina, uma hormona que favorece a dilatação dos vasos sanguíneos;
- A gentileza reforça a autoestima: ser gentil melhora a autoestima e a imagem que temos de nós próprios, bem como a perceção que os outros têm de nós. Sentimo-nos uma boa pessoa, ao contrário de um individualista egocêntrico;
- A gentileza traz felicidade: ser cooperativo e generoso ativa as áreas de satisfação e recompensa no cérebro. Um remédio para o bom humor!
- A gentileza é contagiante: segurar a porta no metro, no restaurante ou no escritório… e todos estes pequenos gestos incentivam 60% das pessoas que beneficiaram deste gesto a fazer o mesmo para os que seguem, contra 40% no caso contrário, demonstraram os investigadores em psicologia social.
Como ser uma pessoa gentil?
A gentileza é uma virtude eficaz que se cultiva e transmite facilmente. Alimentada por gestos concretos, ao alcance de todos, exige um pouco de esforço.
- Ser atencioso
Mostrar preocupação permite captar os humores e as necessidades do outro. O teu amigo está triste? Tira tempo para perguntar: “o que se passa? Queres contar-me?”. O teu parceiro está cansado? Leva-lhe o pequeno-almoço à cama. Não se trata de ser caritativo, nem de aliviar a consciência, mas de compadecer e encorajar.
- Adaptar-se ao momento e à pessoa
É difícil alegrar-se com o sucesso de um ente querido quando se está a passar por dificuldades. E, no entanto, isso é essencial num casal. É preciso saber festejar o sucesso do outro no momento e adiar as suas preocupações.
Noutro contexto, a gentileza pode consistir em ser firme. A fórmula “digo-te isto para teu bem” pode revelar-se justa. “Acho que é melhor deixares de te agarrar a…” um amor, um emprego, um objeto…
- Ter cuidado com julgamentos precipitados
Dizer “não se faz isso” ou “ele está sempre de trombas” é ficar à superfície das coisas e interpretar sem saber. “Por detrás de uma atitude, há razões, e por detrás dos defeitos, há qualidades.”
- Pensar antes de se zangar
Deixar-se levar pela raiva magoa o seu interlocutor. Precisamos de tirar primeiro tempo para nos ouvirmos a nós próprios, acolher as emoções fortes – medo, raiva, stress – para compreender o que dizem de nós e usar a energia de forma adequada. No entanto, isso não impede de mostrar os dentes para proteger um ente querido (filho, amigo…) atacado por um terceiro (colega, relação…). Ser gentil equivale então a acertar o relógio.
O que é ser “demasiado gentil”? O que fazer para deixar de o ser?
Ser gentil não significa deixar-se ser pisado. Podemos expressar a nossa discordância sem magoar. O segredo é dizê-lo da forma correta, depois de tirar tempo para ouvir o seu interlocutor sem o interromper. “Ouvi o teu ponto de vista, compreendo-o, no entanto o meu é este”.
Estar disponível para os outros é um ponto crucial da gentileza, mas quando o outro abusa da sua escuta, é preciso questionar-se sobre o que essa relação lhe traz: deve mantê-la ou rompê-la? Cabe a ti ponderar os argumentos. Em ambos os casos, exponha a “sua” verdade: o seu sentimento e a sua decisão, mesmo que tenha de ajustar as coisas.